domingo, 15 de janeiro de 2012

Descanse em Paz


Demorei em criar coragem de escrever esse texto, afinal ninguém gosta de falar sobre funerais. A morte não é, e nunca será, algo fácil de lidar. E quando foi suicídio, a história fica ainda mais difícil. Ninguém gosta de admitir “o fulano se matou”. 


Desde pequena, lembro-me da minha vó me cutucando e sussurrando algo do tipo “não fala isso, é feio, foi deus quem levou ele”. Bom, sendo Deus que levou, só pode ser algo bom, ele jamais tiraria de mim algo que me é necessário. 


Mas foi suicídio sim, apesar de boa parte da “população” ainda não saber disso. As pessoas me cobram, me cobram muito, como se eu fosse a culpada, em partes, por deixar ele ir. Mas eu sou humana e não consigo viver com meias verdades, então desisti de esperar e deixei que ele se matasse da minha vida e levasse com ele toda magoa que eu sentia. Não consigo explicar se isso foi bom ou ruim, e não cabe a mim esse tipo de juízo. Fiz o certo, o que deveria ser feito. Cada um que responda pelos seus atos.


Passado as lágrimas do velório e a dor quase insuportável de vê-lo sendo sepultado (mesmo que cercada de inúmeros abraços),  a vida tem que continuar. Afinal, eu ESTOU VIVA e eu quero viver. Não é por que alguém se suicidou da minha vida, que preciso ficar o resto dos meus dias choramingando ao redor do caixão (a essas horas já decomposto por vermes e engolido pela terra).


E o pior é que as pessoas que acreditam que foi morte “normal”, vêm me cobrar pela espera da ressureição. Não caiu a ficha ainda? Não há como desenterrar alguém que está a sete palmos do chão. Eu cortei a corda inúmeras vezes, desengatilhei a arma, escondi os remédios e até dobrei a dose de paciência. Mas ele resolveu tomar o tal do veneno do orgulho, e contra esse eu já não podia fazer nada senão vê-lo morrer. 


Agora ele morreu, já o vi sendo enterrado e as essas alturas só restam parasitas ao redor do seu corpo. Deixem seu corpo em paz e mais, deixem a minha alma em paz. A escolha da morte foi dele, não minha. Descanse em paz amor! Descanse... E me deixe viver.

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