sábado, 23 de outubro de 2010

O que, raios, é fazer amor?

Texto da brilhante Ailin Aleixo
















FAZER AMOR.

Sempre achei essa expressão coisa de menina virgem do interior ansiosa por uma fusão romântica-orgásmica-amorosa-eterna. E, inevitavelmente, a pobrezinha passaria o resto da vida amuada, copulando com um cara muito mais interessado no campeonato mineiro de futebol do que em fazê-la gozar.

Não acredito nesse papo de demonstrar todo o sentimento que vai por dentro através da união mágica dos corpos. Acho uma pentelhação sem fim filmes românticos em que o casal enamorado transa à luz trepidante de velas, inebriado pela brisa, sussurra palavras de devoção eterna ao pé do ouvido e, ao final, repousa nos braços um do outro sem uma gota de suor e com todos os pêlos no lugar. Pelamordedeus! Sexo é incrível porque é irracional, animal. Porque, naquele momento, você se esquece. Perde-se. Une-se ao outro e, somados, viram gozo, loucura temporária. É incrível porque é insano.

Amor não se faz. Amor se sente. Amor se dá, se doa. A materialização física dele pode ser carinho, pode ser cafuné. Pode ser sexo. Mas apesar de ser uma ferramenta poderosa, ninguém passa a amar através do sexo nem cria amor por ele. Existe uma diferença colossal entre trepar e transar com quem se ama— o primeiro é uma atividade aeróbica. O segundo, é ter prazer em provocar prazer. É importar-se com as pequenas reações do outro, é catalogar mentalmente tudo o que causa arrepio, gemidos. É ficar feliz em sentir a pele, em encaixar as curvas, em respirar perto do pescoço.

Para mim, fazer amor não é um jeito meiguinho e politicamente correto de se referir ao sexo. Para mim, fazer amor é estar com quem se deseja profundamente do jeito que se gosta; sem moralismos, com risos. Depois, ficar na cama conversando. Ou dormindo. Ao acordar, ir à geladeira trazer água. É pegar duas toalhas de banho no armário. Perguntar aonde vamos comer depois. Dar um abraço ao caminho do elevador. É entregar-se a viver o dia-o-dia. Sem medo. Com esperança.

 Sendo assim, quero mais é fazer pelo resto da vida.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Duplo sentido

Minha mente profana, insana e inventiva vê em muito o duplo sentido. A arte de disser e não disser, de provocar com as palavras, de induzir a atos inconscientes. Ah, o poder da palavra (eu que o diga, aspirante a jornalista e escritora que sou).  É incrivelmente prazeroso seduzir por palavras. Divertido e encantador. Uma arte de mão dupla que induz a um único propósito.
Para apreciadores do sentido duplo como eu, uma obra do incrível Fabrício Carpinejar



A sensualidade é a infância da vida adulta. Ou alguém ainda duvida que sexo é brincadeira?

Uma palavra certa e a vontade não larga mais o pensamento. Quando a namorada sugere que é lasciva, eu não me contenho, junto imediatamente as pernas e fecho o tórax. Lasciva é uma palavra muito rápida, entra direto no sangue. Derrubo minhas defesas também diante de “assanhada” e “safada”. Um amigo não pode escutar lúbrica que abandona sua carreira.

A audição se desespera com a realidade paralela dos vocábulos. Sou da turma do sexo falado. Não me permito pecar quieto. Saio para pescar na conversa.

Gemer em silêncio somente na masturbação, tampouco partilho da crença da música ao fundo. Reivindico a gritaria, as frases doidas, o acinte animal. O ritmo vem unicamente da respiração e da falta dela.

É um efeito colateral da minha geração. O carro foi o primeiro quarto, o sofá foi o primeiro hotel. Não encontrava tanto conforto para transar, necessitava arretar semanas e convencer a menina que valeria a pena, que só seria um pouquinho, que deixasse entrar. Aproveitava a saída dos pais para explorar a solidão lisa do seu corpo. Era um suspense, uma vertigem. Qualquer ruído na porta modificava o embalo da cintura. Procurava me manter perto das almofadas. Desde a adolescência, fui preparado para o flagrante. Cresci sob a pressão da maçaneta.

Sexo não acontecia com tranquilidade, despir dependia do pôquer da dicção. Falava algo bonito para retirar o sutiã dela, falava algo perigoso para arrancar a calça, amor eterno somente com a calcinha, e ainda existiam frequentes recuos de pudor. Muitas vezes, ela terminava mais vestida do que quando a gente começava. Nem sempre dava certo. Uma frase oportunista e indiferente puxava o freio de mão. Ela deveria entender que eu amava, que não me aproveitava de sua ingenuidade, que permaneceríamos juntos. Sexo exigia convencimento, persuasão erótica, promessas de Lagoa Azul.

Brincar com o duplo sentido continua um jogo favorito. Enrijeço na disputa de insinuações. É dizer e não dizer, é despertar o lençol na toalha de mesa, é atiçar a curiosidade dos dentes com a língua, pesar a pálpebra para espiar o vão da voz.

Tenho uma elasticidade incomum para formar dimensões alternativas. Não me contento com nada direto, tipo uma mulher confessando que vai beber todo o chantilly do café. Isso é pornografia. Viajo além. Se ela comenta que procura um mouse retrátil, fico louco. Retrátil? Eu me ponho em movimento. Já quero ser retrátil.

O Aurélio é meu Kama Sutra.

Tempos corridos...

É, pra quem falou que atualizaria o blog toda semana, menti. Menti feio.
Sei que não justifica, mas estou trabalhando nos preparos para a comemoração dos 14 anos de Novo Cabrais e mais umas trocentas coisas por serem feitas. Tempo eu ainda tenho e muito (noites e madrugadas :P) 

Já tive milhões de ideias para posts e inclusive organizei "mentalmente" alguns textos (Temas como Censo, relacionamentos, sexo, música, eventos, tempo e tantos outros perambularam meu cérebro).
Tenho alguns outros por postar (que escrevi faz meses) mas acredito que para cada texto a um tempo certo (não me perguntem de onde tirei isso e nem como chego a esse tempo...)

O que não deixei de fazer durante esse tempo todo foi ler bons textos. Me indentifiquei com vários autores e descobri crônicas maravilhosas. Para não ser egoísta vou dividir com vocês nos próximos posts.
Vicie em Fabrício Carpinejar e Ailin Aleixo. Nos próximos posts obras dessas figuras que admiro.


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