terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Quando perdi minha inocência

* O primeiro texto da série "Minha querida Infância". P.S. Todos serão história verídicas.
 
Tinha pouco mais de quatro anos e uma curiosidade tremenda. Era verão e um aglomerado de homens surgia diante dos meus olhos. Meu primo, 8 anos mais velho que eu, havia chegado com algo que me seduzira a primeira vista. Gibis.
A paixão por revistas, livros e jornais é algo que carrego comigo desde bem pequena, talvez uma previsão do que viria a ser minha profissão. Naquela manhã, ou tarde - não lembro ao certo - ele chegará com dois. Um deles estilo faroeste – se não me falha a memória, TEX.  O outro era diferente de todos que já tinha visto, era colorido e tinha pessoas. De imediato pensei que eram para mim. Para minha decepção ele exibira aquele aglomerado de páginas coloridas para todos os homens ali presentes – meu pai e os demais dos quais não recordo quem seriam – menos para mim.
Mimada que era fiz cara de choro e exigi ver também. Disse-me que era revista de menino e me entregou o outro gibi, do qual eu julgava da pior espécie. Era sem vida, com poucas cores e eu queria o outro. Indignada fiquei de birra e sai dali.
 Mas não haveria de terminar ali. Com que ele achava que estava se metendo? “Revista de menino”? Ora bolas, eu sempre gostei de brinquedos de menino, carrinhos e bola, como ele poderia pensar que eu não gostaria daquele livrinho tão colorido? Já na época, era contra esses preconceitos machistas e pré-estipulados pela sociedade.
Aquela revista haveria de ser minha. Escondi-me próximo do local e fiquei no aguardo de qualquer passo em falso do inimigo. Minha mãe, mesmo sem saber, foi minha cúmplice, chamando todos para o café. Eles estavam no galpão e teriam que se deslocar até a cozinha, na minha casa. Vi de canto que ele soltara meu “tesouro” em cima de uma "pia" de fumo, com mais ou menos o dobro da minha altura (nunca fui muito alta).
Sorrateiramente peguei um banco que havia lá e o usei para subir. Ainda assim era alto e tive que dar impulso para conseguir alcançar o alto. Por pouco não fui para o chão. Ao sentar-me naquela "pia" de fumo tão alta e com aquele gibi em minhas mãos, me senti tão grande, forte e corajosa que nada do mundo me atrapalhara – nem aqueles tocos de fumo que costumavam pinicar a bunda.
Em êxtase e com o coração a mil eu analisará o tal gibi. Havia vencido. Curiosa, o abri e em espanto fiquei. Era uma moça loira bastante bonita e um cara forte de pele morena e eles faziam coisas que não posso relatar para o horário.  Era um gibi pornô, daqueles que fazia sucesso nos anos 80. Sem entender aquilo tudo, e julgando muito nojento o “pirulito” que ela tinha na boca, controlei o choro de susto e sai imediatamente dali.
Não contei o episódio a ninguém, provavelmente apanharia. Estava triunfante e assustada ao mesmo tempo. Havia perdido minha inocência.

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